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GRANDE ESTUDO SOBRE DOENÇAS CRÔNICAS TRAZ UM RETRATO PREOCUPANTE SOBRE A SAÚDE DOS BRASILEIROS.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
Projeto Elsa-Brasil. Foto: Cecília Bastos.
A saúde da população brasileira adulta não vai bem. As pessoas estão mais obesas, um terço tem hipertensão, muitas delas desenvolveram diabetes e quase metade tem colesterol alto. A avaliação é do médico Paulo Lotufo, e tem um fundamento bem sólido: dados levantados no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que ele coordena na USP desde 2008.

O projeto Elsa testou e validou algumas medidas e escores de pesquisas já realizadas em populações no exterior com doenças cardiovasculares, para saber em que medida os critérios desses estudos poderiam ser aplicados à população brasileira. De forma geral, houve similaridade, inclusive com relação aos fatores de risco: obesidade, hipertensão arterial, colesterol elevado e diabetes. Em uma próxima etapa, serão considerados outros elementos como diversidade racial e hábitos de vida dos brasileiros.

A primeira divulgação dos resultados do Elsa-Brasil a um público mais amplo foi feita no dia 1º de fevereiro no Hospital Universitário (HU) da USP, uma das bases operacionais do projeto. A apresentação trouxe um retrato das principais doenças crônicas no País – arterosclerose, enxaqueca, hipertensão, diabetes e dislipidemia (presença de gordura no sangue). Estas patologias crônicas são as responsáveis pelos maiores índices de mortalidade e morbidade no Brasil e seu aumento, principalmente a partir dos anos 1960, têm gerado altos gastos para o Sistema Único de Saúde (SUS).

USP em alerta
O público pesquisado na USP é composto por professores e funcionários. Para esse grupo, o cardiologista Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Elsa e um dos palestrantes do evento, não têm boas notícias. Segundo ele, apesar destes servidores terem mais acesso aos serviços de saúde do que a população em geral, andam com hábitos de vida não muito saudáveis. Mesmo sendo um pequeno subgrupo analisado, pouco mais de 5 mil, os participantes “uspianos”, quando comparados à maioria da população brasileira, estão mais obesos ou com sobrepeso, fazem menos atividade física fora do ambiente de trabalho e têm maior propensão ao diabetes.

Em relação ao acompanhamento da própria saúde, porém, o grupo da USP está em melhor situação. Dados da pesquisa sobre hipertensão arterial mostram que dos 35% dos participantes da USP que tiveram diagnóstico de hipertensão, 80% já tinham conhecimento dessa informação, enquanto que na população brasileira esta média cai para 50%.

Bittencourt espera que os exames realizados pelos servidores, cujos resultados foram entregues individualmente para cada participante, sirvam de estímulo para que cuidem melhor de si mesmos. Isso com o objetivo não apenas de melhorar sua expectativa de vida em anos, mas de ter uma “perspectiva de saúde mais prolongada”.

Elenir Aguilhera de Barros, de 72 anos, professora aposentada do Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, esteve o tempo todo sentada na primeira fila do evento a fim de acompanhar a apresentação dos trabalhos – e garante se sentir muito bem assistida pelo Elsa. Não só fez vários exames para investigar alguns problemas de saúde, conta ela, como também teve acesso ao acompanhamento psicológico para aposentados.

Além de doenças cardiovasculares, os resultados apresentados trouxeram dados sobre enxaqueca e doenças da tireoide. A pesquisadora Alessandra Goulart anuncia que o brasileiro está mais “enxaquecoso”, ou seja, ele tem mais episódios de dores de cabeça durante sua vida – cujos sintomas são dores pulsantes, náuseas, perda parcial da visão e sensibilidade à luz e ao som.

Apesar de não haver ainda nenhum estudo comprovando o crescimento do problema, há uma prevalência da enxaqueca aumentada em toda a América Latina. A novidade do estudo nessa área foram as evidências encontradas de que há correlação entre as pessoas que sofrem de enxaqueca e de transtornos de ansiedade e depressão.

Sobre doenças tiroidianas, há indícios de que a levotiroxina (medicamento utilizado no tratamento do hipotireoidismo) esteja sendo receitada de forma inadequada aos pacientes. Segundo a pesquisadora Isabela Benseñor, o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico (forma mais branda da doença, geralmente sem sintomas, mas detectável em exames) é feito pelo Elsa a partir da dosagem dos hormônios e de informações do paciente se ele faz uso ou não da levotiroxina. A partir desse procedimento, foi possível observar que há mais pessoas com hipotireoidismo clínico do que com hipotireoidismo subclínico, o que sugere que “tem mais gente do que deveria usando a levotixoxina”, adverte Isabela.

A investigação multicêntrica do projeto Elsa-Brasil vem sendo desenvolvida desde 2008 com cerca de 15 mil pessoas entre 35 e 74 anos de várias instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões nordeste, sul e sudeste do Brasil. Na USP, são 5.061 voluntários que participam do trabalho. O objetivo é investigar, a longo prazo, a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas. A importância das pesquisas do Elsa se confirma na área de saúde pública brasileira. Os resultados vão servir de subsídio para direcionamento e adequações de políticas públicas. As ações do SUS, dos programas de atenção primária e do sistemas privados terão impactos direto dos resultados dessas pesquisas, conclui Lotufo.

Fonte: USP.

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