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FRUTAS BRASILEIRAS.

sábado, 11 de fevereiro de 2017
Na botânica, um fruto é a estrutura que carrega as sementes em plantas com flores (também conhecidas como angiospermas). Já a palavra “fruta” não é uma termologia botânica, mas um nome popular dado aos frutos e pseudofrutos comestíveis de sabor adocicado. Nem todo fruto é considerado uma fruta comestível pelos humanos, mas toda fruta é um fruto, como os legumes também o são.

O Brasil é o 3o maior produtor de frutas no mundo (15o no ranking de exportação), suprindo quase integralmente o mercado interno. Tendo o país um extenso território com diferentes climas e ecossistemas, estas característica possibilitam a produção de uma vasta variedade de frutas. Muitas delas adquiriram o termo “Brazilian Fruit” no mercado exterior, mesmo que algumas possam ser também nativas de outros países da América Central e do Sul. (1)

Todos sabemos que as frutas possuem um grande valor nutricional, com vitaminas, sais minerais, antioxidantes, açúcares naturais e fibras – valores estes dependentes e variáveis quanto ao tipo. Muitas delas já foram estudadas separadamente em estudos prospectivos de coorte ou ensaios clínicos randomizados demonstrando importante papel na prevenção ao câncer, por exemplo, e tipicamente são de grande interesse para a saúde devido ao seu conteúdo fitoquímico, incluindo polifenóis, fitoestrogênios e antioxidantes.

Aqui, separamos uma pequena lista de frutas brasileiras com respectivos estudos científicos específicos às suas características para a saúde humana, que, lentamente, estão se tornando conhecidas no exterior por suas propriedades benéficas para a saúde e “exotismo”. Com exceções, estas delícias são na maioria encontradas comumente na região Norte e Nordeste, e, por vezes, não muito conhecidas pelas populações de outras regiões brasileiras.

Cupuaçu (Theobroma grandiflorum)
O cupuaçuzeiro, nativo da Amazônia, é uma planta do mesmo gênero que o cacau (Theobroma cacao), tanto que suas sementes podem substituir as do cacau na produção de chocolate. Já sua polpa e sementes são muito utilizadas em sucos, licores, guloseimas e cosméticos.

Um estudo publicado em Journal of Natural Products identificou o cupuaçu como uma fruta rica em 9 antioxidantes flavonoides, incluindo quercetina, catequina e epicatequina (encontrada no chá verde). (2)

Açaí (Euterpe oleracea)
O fruto de cor roxa ganhou o centro das atenções no mercado nacional e internacional, inclusive ganhando o título de “superalimento” por uma excelente razão: possui um alto teor de antioxidantes, além de gorduras benéficas (monoinsaturadas e poli-insaturadas), fibras e proteínas. Nativo da região amazônica, entre outras, o açaí é muito utilizado na produção de alimentos e bebidas e, atualmente, já são vários estudos científicos afirmando suas propriedades benéficas à saúde:

- Melhora da função vascular e redução do estresse oxidativo (3)

- Poder antioxidante e anti-inflamatório, podendo ser usado em convulsões, prevenção de inflamação intestinal, redução da percepção de dor, inibição da atividade dos osteoclastos, tratamento da obesidade e esteatose hepática, além de mostrar-se seguro devido ao fato de não possuir ação genotóxica. (4-12)

- Para os atletas, o açaí é um excelente alimento, pois possui 8 aminoácidos essenciais (triptofano, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, valina, leucina e isoleucina) e é rico em gorduras saudáveis já que cerca de 60% do seu conteúdo de gordura corresponde a ácidos graxos monoinsaturados (desses, 56,2% ácido oleico), aproximadamente 26% de ácido graxo saturado e 13% de ácidos graxos poli-insaturados. Estudos concluem que o consumo do fruto é indicado para melhorar o desempenho atlético e recuperação pós-exercício durante treinamento de alta intensidade. (13-15)

Cajá (Spondias mombin)
No Brasil, o cajá é encontrado no norte e nordeste e é rico em carotenoides, vitamina C, magnésio, fósforo, potássio, fibra, taninos, cálcio, compostos antioxidantes e fenólicos. Segundo Kimura, o cajá (polpa e película comestível) fornece um valor de vitamina A maior que o caju, goiaba e alguns cultivares de mamão e manga. (16,17)

As folhas da planta estão também sendo investigadas por suas propriedades benéficas. (18)

Camu-camu (Myrciaria dubia)
Contém grande fonte de antioxidantes (flavonoides e antocianinas) na polpa, sementes e pele, incluindo alto conteúdo de vitamina C – esta, a nível comparativo, mais alto que a acerola. (23)

Uma revisão sistemática executada em 2015 relata que a evidência (estudos em animais e em humanos) aponta para um papel potencialmente substancial da fruta camu-camu para o equilíbrio das respostas imunológicas e como um antioxidante viável para mediar processos anti-inflamatórios. Suas sementes contêm derivados de ácido elágico (encontrados em framboesas e outras frutas), enquanto tanto as sementes quanto a pele contêm proantocianidinas. O conjunto de suas propriedades mostra potencial para desempenhar um papel na redução ou alívio de sintomas de um número de doenças, em particular associadas com o envelhecimento. (19)

Um estudo publicado em Journal of Cardiology comparou os seus efeitos aos da vitamina C por via oral em fumantes e encontrou uma redução dos marcadores de estresse oxidativo e inflamação, enquanto não foram observadas alterações no grupo que só se suplementou com a vitamina C. Os pesquisadores sugeriram que os benefícios do camu-camu podem ser devido a seus antioxidantes além da vitamina C, ou a cinética entre eles. (20)

Outro estudo, publicado em Anais da Academia Brasileira de Ciências, reportou a capacidade do fruto camu-camu para melhorar vários fatores metabólicos, como glicose, colesterol, triglicerídeos e insulina, sugerindo ser uma fruta funcional. (21)

Jabuticaba (Myrciaria cauliflora)
Encontrada frequentemente nos estados das regiões nordeste, sudeste e sul (Mata Atlântica), esta pequena fruta contém vitamina C e antocianinas (na casca), que fornecem benefícios antioxidantes. (22)

Acerola (Malpighia emarginata)
Conhecida por seu notável perfil de vitamina C, este fruto parecido com uma cereja têm um efeito antioxidante que ajuda a proteger o DNA, particularmente quando a fruta está em seu estágio ainda verde. (23)

Em experiências de laboratório, a acerola exibiu as seguintes ações: inibe a acetilcolinesterase, é antigenotóxica, antioxidante e anti-inflamatória, remove radicais livres, inibe a formação tanto de alfa-glicosidase quanto do produto final de glicação avançada, citotóxica contra linhagens de células tumorais (carcinoma epidermoide oral e da glândula submandibular), antibacteriana, inibe a produção de óxido nítrico, e apresenta característica antifúngica. (23)

Espécies de palmito, como o buriti, bacaba, inajá, pupunha e tucumã, apresentam grande fonte de compostos bioativos, alguns dos quais mais altos do que as frutas comumente consumidas. Seus níveis totais de antocianinas e polifenóis extraídos se correlacionaram diretamente às atividades antioxidantes das frutas. (24)

Muitas espécies de frutas brasileiras ainda aguardam estudos científicos para comprovar ou não o que o conhecimento popular afirma. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), se faz necessário, entre outras estratégias de saúde, aumentar a conscientização geral acerca da função da frutas para seu maior consumo, bem como apoiar a pesquisa na área. O alto consumo de frutas (e verduras) reduz o risco de cardiopatias, alguns tipos de câncer e obesidade. (25)

Referência bibliográfica:

(1) As Exportações Brasileiras de Frutas: Um Panorama Atual. Disponível em: sober.org.br/palestra/13/1300.pdf Acessado em: 24/11/2016

(2) Yang H, et al. New bioactive polyphenols from Theobroma grandiflorum ("cupuaçu"). J Nat Prod. 2003

(3) Alqurashi RM, et al. Consumption of a flavonoid-rich açai meal is associated with acute improvements in vascular function and a reduction in total oxidative status in healthy overweight men. The American Journal of Clinical Nutrition, 2016. DOI: 10.3945/ ajcn.115.128728

(4) Barbosa PO, et al. Açai (Euterpe oleracea Mart.) pulp dietary intake improves cellular antioxidant enzymes and biomarkers of serum in healthy women. Nutrition, 2015. DOI: 10.1016/j.nut.2015.12.030

(5) Souza-Monteiro JR, et al. Anticonvulsant properties of Euterpe oleracea in mice. Neurochemistry International, 2015. DOI: 10.1016/j.neuint.2015.06.014

(6) Dias MMS, et al. Anti-inflammatory activity of polyphenolics from açai (Euterpe oleracea Martius) in intestinal myofibroblasts CCD-18Co cells. Food Funct., 2015. DOI: 10.1039/c5fo00278h

(7) Martino HSD, et al. Anti-lipidaemic and anti-inflammatory effect of açai (Euterpe oleracea Martius) polyphenols on 3T3-L1 adipocytes. Journal of Functional Foods, 2016. DOI: 10.1016/j.jff.2016.02.037

(8) Sudo RT, et al. Antinociceptive effects of hydroalcoholic extract from Euterpe oleracea Mart. (Açaí) in a rodent model of acute and neuropathic pain. BMC Complementary and Alternative Medicine, 2015. DOI: 10.1186/s12906-015-0724-2

(9) Carey AN, et al. Dietary supplementation with the polyphenolrich açaí pulps (Euterpe oleracea Mart. And Euterpe precatoria Mart.) improves cognition in aged rats and attenuates inflammatory signaling in BV-2 microglial cells. Nutritional Neuroscience, 2016. DOI 10.1080/1028415X.2015.1115213

(10) de Oliveira PRB, et al. Euterpe oleracea Mart.-Derived Polyphenols Protect Mice from Diet-Induced Obesity and Fatty Liver by Regulating Hepatic Lipogenesis and Cholesterol Excretion. PLOS ONE, 2015. DOI: 10.1371/journal.pone.0143721

(11) Marques EA, et al.. Evaluation of the genotoxicity of Euterpe oleraceae Mart. (Arecaceae)

fruit oil (açaí), in mammalian cells in vivo. Food and Chemical Toxicology, 2016

(12) Brito C, et al. Extract of acai-berry inhibits osteoclast differentiation and activity. Archives of Oral Biology (2016). DOI: 10.1016/j.fct.2016.04.018

13) Peixoto JC, et al. Consumption of açai (Euterpe Oleracea Martius) functional beverage reduces muscle 3 stress and improves effort tolerance in elite athletes: a randomized controlled 4 intervention study. Appl. Physiol. Nutr. Metab, 2015

14) Amsellem-Laufer M. Euterpe oleracea Martius (Arecaceae) : Açaï. Phytothérapie (2015). DOI: 10.1007/s10298-015-0942-2

15) Dutra RC, et al. Medicinal plants in Brazil: Pharmacological studies, drug discovery, challenges and perspectives, Pharmacological Research, 2016. DOI: 10.1016/j.phrs.2016.01.021

(16) “Aplicação do processo de liofilização na obtenção de cajá em pó: avaliação das características físicas, físico-químicas e higroscópicas” Disponível em: ppgcta.ufc.br/disserta%E7%E3o_de_Gleison_Silva_Oliveira.pdf Acessado em: 24/11/2016

(17) Tiburski JH, et al. Nutritional properties of yellow mombin (Spondias mombin L.) pulp. Food Research International, 2011

(18) Cabral B, et al. Phytochemical study and anti-inflammatory and antioxidant potential of Spondias mombin leaves. Revista Brasileira de Farmacognosia, 2016. DOI:10.1016/j.bjp.2016.02.002 

(19) Langley PC, et al. Antioxidant and Associated Capacities of Camu Camu (Myrciaria dubia): A Systematic Review. J Altern Complement Med, 2015. DOI: 10.1089/acm.2014.0130

(20) Inoue T, et al. Tropical fruit camu-camu (Myrciaria dubia) has anti-oxidative and anti-inflammatory properties. Journal of Cardiology, 2008. DOI: 10.1016/j.jjcc.2008.06.004

(21) Nascimento OV, et al. Effects of diet supplementation with Camu-camu (Myrciaria dubia HBK McVaugh) fruit in a rat model of diet-induced obesity. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 2013

(22) Reynertson KA, et al. Bioactive depsides and anthocyanins from jaboticaba (Myrciaria cauliflora). J Nat Prod, 2006

(23) E Gayle; Brinckmann J. Acerola – Mapighia emarginata, M. glabra. HerbalGram, 2014. Disponível em:


(24) dos Santos MFG, et al. Native Palm Fruits as Sources of Antioxidant Bioactive Compounds. Antioxidants, 2015. DOI:10.3390/antiox4030591

(25) Disponível em: who.int/dietphysicalactivity/publications/releases/pr84/en/ Acessado em: 29/11/2016

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